sábado, 14 de abril de 2012

Desaprender...


essencial é saber ver, mas isso, triste de nós que trazemos a alma vestida,
isso exige um estudo profundo, aprendizagem de desaprender.
Eu prefiro despir-me do que aprendi,
eu procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
desembrulhar-me e ser eu.

Alberto Caeiro

terça-feira, 10 de abril de 2012

O problema...

O PROBLEMA É A DOSE...


Realmente, o problema é sempre a dose! A pouca dose do amor, a pouca dose do tesão, a pouca dose da ação e da reação! Realmente, o problema é sempre a dose. A dose fraca do veneno que não mata, mas que deixa moribundo e vegetativo o ouvinte, o leitor e o transeunte. A pouca dose das boas conversas, dos grandes sorrisos, dos grandes encontros... A dose máxima dos desencontros, da falta de cumplicidade, das tormentas que nem precisavam acontecer... mas que acontecem porque deixamos que aconteça. De fato... de fato realmente, o problema é a dose. A dose medíocre e fraca dos cafés, das palavras, dos gestos. A dose de uma interrogação do que seria sem ser, mesmo quando já foi há tempos. A dose fraca e miserável doestado de vida, do mal estado de vida! E puxa vida... que dose é essa? Por que tão inacabada ou acabada? Por que tão injusta ou justa? O problema que nos absorve e nos consome, definitivamente, é a dose. A dose do que queremos ser, do que queremos para nós... a dose que, infelizmente, muitas vezes não damos na nossa vida! E essa é a diferença para sempre! Porque, entre o remédio e o veneno... a diferença também é a dose.

                                                                                                      Adriano Húngaro

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Caráter




"O talento educa-se na calma, o caráter no tumulto da vida."


(Johan Wolfgang Von Goethe)

À espera...


"Tenho dias lindos, mesmo quietinho. Quase todo dia caminho com as mãos no bolso pela Frei Caneca, Augusta e lá no fundo, bem fundo do que seja fundo sei que dentro de mim tem uma coisa pronta, esperando acontecer. O problema é que essa coisa talvez dependa de uma outra pessoa para começar a acontecer. Isto me dói. Às vezes, nos fins de semana principalmente, tiro o fone do gancho e escuto para ver se não foi cortado. Não foi."


Caio Fernando Abreu





domingo, 8 de abril de 2012

Caminho Por Inteiros...



Recomeça… se puderes, sem angústia e sem pressa
e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade,
enquanto não alcances não descanses,
de nenhum fruto queiras só metade.


(Miguel Torga)


Desprendimento...


DESPEDIDAS





Começo a olhar as coisas
como quem, se despedindo, se surpreende
com a singularidade
que cada coisa tem
de ser e estar.
Um beija-flor no entardecer desta montanha
a meio metro de mim, tão íntimo,
essas flores às quatro horas da tarde, tão cúmplices,
a umidade da grama na sola dos pés, as estrelas
daqui a pouco, que intimidade tenho com as estrelas
quanto mais habito a noite!
Nada mais é gratuito, tudo é ritual
Começo a amar as coisas
com o desprendimento que só têm
os que amando tudo o que perderam
já não mentem.




Affonso Romano de Sant'Anna



sexta-feira, 6 de abril de 2012

Inesperado...

Todos nós achamos que seremos grandes
e nos sentimos um pouco roubados quando
nossas expectativas não são alcançadas.
Mas as vezes as nossas expectativas
nos mostram que nos subestimamos.
As vezes, o esperado simplesmente perde importância
comparado ao inesperado.
Você passa a se perguntar porque se apegou a suas expectativas,
porque o esperado é o que nos mantém estáveis.
Equilibrados. Tranquilos.
O esperado é somente o começo,
o inesperado é o que muda nossas vidas.

 Grays Anatomy 

terça-feira, 3 de abril de 2012

Solene Doçura



Um outro dia, embaixo da chuva, esperamos um barco à beira de um lago; a mesma lufada de aniquilamento me atinge, desta vez por felicidade. Assim, às vezes, a infelicidade ou a alegria desabam sobre mim, sem nenhum tumulto posterior, nenhum outro sentimento: estou dissolvido, e não em pedaços: caio, escorro, derreto. Este pensamento levemente tocado, experimentado, tateado (como se tateia a água com pé) pode voltar. Ele nada tem de solene. É exatamente a doçura.


Roland Barthes


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