sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Inocência


O Guardador de Rebanhos, II



O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender …
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…
É preciso uma aldeia inteira para criar uma criança. (Provérbio africano)Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar …
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar…








                                                        Alberto Caeiro

Um comentário:

Nelson disse...

Olá, Li! Obrigado pela presença em meu blog, viu? Desejo-lhe uma nova semana repleta de felicidades...Um abraço, amiga!
Literatura&Linguagens (menbro 73)

Seguidores

Maukie - the virtual cat